Encontrando meu humano
A minha vida começou bem estranha, quando sai da barriga da
minha mãe não consegui enxergar nada, fiquei me mexendo não entendendo o porquê
estava tendo que usar as minhas próprias patas, eu nem sabia o que eram patas.
Fui descobrir quando abri meus olhos e enxerguei a minha mamãe. Ela era linda.
Não sabia o nome dela só sabia que ela era a minha mãe porque eu senti o seu
cheiro, foi ai que descobri que tinha um nariz e ele é muito útil, consigo
sentir cheiro de várias coisas bem longe como um cheiro que não gostei ou como
algo muito chamativo, é uma brincadeira muito divertida.
Por muito tempo fiquei com os meus irmãs e irmãos junto da mamãe
sentindo o cheiro do mundo que estava ao nosso alcance, para nos existia apenas
a nossa mãe e aquela cama dentro de uma caixa de papelão, ficávamos o dia
inteiro cheirando o vento em busca de cheiros novos. O lugar que estávamos era
um pouco escuro, parecia um quadrado gigante aonde jogaram um monte de coisas,
como umas rodas gigantes que eu aprendi mais tarde que eram pneus e vários
outros pedaços de carros jogados em todos os lados.
Após algum tempo começamos a sair da caixa, não andávamos
muito para o cheiro da nossa mamãe não desaparecer, ela não saia da caixa
ficava observando com a cabeça para fora com seus olhinhos, por isso quando
começava a ficar mais escuro dentro da caixa gigante de metal logo entravamos
de volta para a caixa pequena. Um dia mamãe parou de se mexer, não nos dava
ordens e nem falava mais que estava na hora de comer. Eu e os outros ficamos
muitos tristes pois ela não se mexia mais e estava ficando gelada rapidamente,
choramos e choramos.
Muitos dias se passaram e continuávamos perto da mamãe, não
iriamos deixar ela sozinha, talvez estivesse um pouco doente e logo voltaria ao
normal. Seu cheiro começou a fica desagradável mas mesmo assim continuávamos deitado
perto dela, não podíamos abandonar ela.
Em um dia ensolarado que estava fazendo muito calor dentro
da caixa de metal, enquanto estávamos eu e meus irmãos e irmãs deitados junto da
nossa mamãe, escutamos um barulho vindo em um algum lugar da caia de metal, não
sabíamos o que era no momento, pensamos que poderia ser algum outro bicho
estranho que estava procurando a mamãe como as larvas pequenas que começavam a
nascer no olho dela. Mas não era isso, foi nesse momento que tive meu primeiro
contato com um humano.
Entraram três, um homem cheio de pelos na cara, ele poderia
ser algum parente distante da minha raça, pois toda a sua cara era cheia de
pelos que só apareciam seus olhos e sua boca. O segundo era um mais sem pelos, ele
tinha mais acima das orelhas, e que orelhas pequenas ele. Tinha talvez deveria
ser um parente dos cachorros pequenos ou algum filhote dos humanos. A terceira
era uma fêmea, não sei como sabia disse mas senti alguma coisa em seu cheiro
que era diferente dos outros, algo mais chamativo e amoroso, ela tinha pelos
lisos que caiam pela sua cara, com cor de fogo, algo que já me apaixonei na
hora. Estes três humanos estavam vestindo um pano verde e outro marrom, acho que
eles não tinham pelos por isso usavam estes panos para se esquentarem. Além é
claro deles andarem de duas patas o que para mim foi fascinante.
Os três olharam para caixa e foram andando devagar para o
meu lado, algo no cheiro deles acalmaram eu e meus irmãos, o homem de pelos
pretos por todo o rosto começou a sair algum liquido de seus olhos o que depois
aprendi que isso era chorar.
A garota de fogo se agachou e começou a fazer carinho em
nós, olhou para a nossa mamãe e fez uma careta que não consegui destingir, logo
o humano filhote saiu e voltou com uma caixa toda cheia de panos e nos colocou
um por um dentro da caixa, ela era bem espaçosa, cabia todos nos juntinhos e
bem quentes, agora não iriamos sentir mais frio como todas as noites na caixa
grande. A nossa mamãe ficou para trás latimos para trazerem elas mas nenhum dos
humanos nos deu atenção, a humana de fogo pegou a caixa e foi saindo da caixa
gigante de metal.
Quando saímos nossos olhos ficaram um pouco ardidos e não conseguimos
enxergar muito bem, mas depois que me acostumei vi que estava no meio do nada,
tudo ali era apenas mato e arvores que se estendiam por muitos quilômetros de distância.
A humana nos colocou dentro do um carro e ficamos lá por um tempo e fomos para
algum lugar para bem longe dali.
Quando cheguei em um lugar bem grande nos colocaram em uma
caixa diferente, lá era bem espaçosa e cabia todos os meus irmãos e irmãs,
tinha cama para todo mundo dormir bem quentes para não passarmos frio. Também
descobri uma comida muito deliciosa, a ração, antes não sabia nem que ela
existia pois no meu antigo lar comíamos pequenos insetos e o que podia engolir
estávamos nos alimentando bem. Foi no meio de tanto barulhos enquanto comia a
ração que percebi pela primeira vez o que eu tinha de diferente, percebia no
reflexo do pote de comida, todos os meus irmãos tinha as duas orelhas, lindas e
meio caídas mas eu era o único que só tinha uma. Nunca reparei nisso antes na
minha pequena vida de filhote.
Depois de alguns dias estávamos todos bem alimentados e com
uma energia enorme. Ficávamos a maior parte do tempo em um lugar aberto junto
com outros filhotes de várias espécies diferentes, alguns que eu achava muito
estranho como um filhote que parecia ser mais velho que eu mas era muito menor,
tinha o tamanho da minha pata, ficava todo bravo com qualquer coisa até o
vento, uma vez eu o vi latindo e pulando para o vento com tanta raiva que
nenhum filhote chegou perto.
Brincávamos todos os dias, os três humanos que nos
encontraram também brincavam com agente as vezes, como o cara de pelos que se
jogava no chão e todos nos subíamos em cima dele, para nós estávamos treinando
nossa forma de luta mas acho que ele não percebia isso pois sempre ficava
rindo. A garota de fogo sempre brincava comigo, talvez fosse por eu ter somente
uma orelha o que eu não ligava muito.
Um dia fomos para um passeio, fomos todos os filhotes para
um campo grande aonde havia muitos humanos por todos os lados, foi ai que
percebi que aquilo era um campo de adoção, que os filhotes estavam ali para
terem seu próprio humano. Todos os filhotes pensaram muito nisso, que muitos
teriam que falar adeus para seus irmãos que irmãs que nasceram juntos com eles,
pensei também com os meus. Chegamos em uma conclusão que tudo bem isso
acontecer, ter um humano todos os dias somente para um filhote é algo incrível
e mesmo que nunca mais veremos nossos irmão sabemos que nunca os esqueceremos,
que estarão com um humano cuidando deles.
Então começa a feira de adoção, éramos muitos filhotes, já
no começo começaram humanos de todos os tamanhos virem para nos ver, começaram
a adotar alguns ali outros aqui, adotaram o filhote minúsculo raivoso, latimos
e desejamos sorte ao humano para aguentar a sua mini raiva, o filhote raivoso
foi indo embora com um sorriso pequeno enquanto prometia deixar seu humano com
raiva todos os dias.
Depois de algum tempo os filhotes foram diminuindo, alguns
dos meus irmãos foram adotados, demos grandes latidos de despedida, e assim o
cercado aonde estávamos estava ficando mais espaçoso. Eu comecei a tentar
atrair algum humano mas toda vez que tentava mostrar a minha felicidade eles
iam embora ou viravam seus olhos para outro filhote, tentei e tentei por muito
tempo, mas ai chegou uma hora que percebi o porquê, eu era apenas um cachorro
de uma orelha, não era um filhote perfeito.
Foi ai que acabei sendo o último filhote da adoção, tinha
todo aquele espaço só para mim mas não tinha um propósito para ficar animado
ali sozinho enquanto todos os meus irmãos estavam com um humano agora, iriam
ter alguém para lamber todas as manhas enquanto eu um filhote sem orelha iria
ficar aqui para sempre sozinho nesse cercado, sem nenhum humano, sozinho e no
frio. Desisti de procurar um humano, deitei no meio no cercado enquanto as
vozes de humanos enchiam ao local e apenas deitado todo encolhido aceitando a
solidão que era dada para este pequeno filhote.
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